PORTEIRNHA (Por Thiago Martins) -- Desde o lançamento do “Projeto Mãos Dadas” em 03 de março último, pelo governo do Estado, através da Secretaria de Educação, muitos debates e discussões estão sendo feitos pelos profissionais de educação, em sua grande maioria os educadores se mostram contrários ao projeto, vislumbrando possíveis problemas que, segundo eles, poderão surgir, após sua implantação.
O referido “Projeto Mãos Dadas” prevê a municipalização das escolas estaduais e foi proposto pelo o governador Romeu Zema. O projeto propõe que os municípios mineiros assumam a educação dos alunos matriculados nas escolas estaduais no período do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental e, posteriormente, assumam todas as escolas até o 9° ano (Ensino Médio).
O governo disponibilizará cerca de R$ 500 milhões para ajudar os municípios a se estruturarem para adesão ao projeto. Esse valor seria dividido entre todos os municípios que aderirem. Passados dois anos da implantação do projeto, as cidades teriam que caminhar com as próprias pernas.
A coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-Ute/MG), subsede de Janaúba, Gilvanita Alves Serpa Dantas, se manifestou sobre o assunto à nossa reportagem.
Segundo ela, os professores da rede estadual da região de Janaúba são, praticamente todos, contrários a ideia do projeto “Mãos Dadas”. Ela apresentou diversos problemas no projeto que poderiam, segundo ela, prejudicar educação.
“Esse projeto é uma grande farsa do governo do Estado. Eles querem tirar a responsabilidade de uma educação bem estruturada e com um bom suporte das suas costas para colocar a tarefa nas mãos dos municípios mineiros, que na sua grande maioria não tem condições nenhuma de abraçar esse projeto”, disse ela. Para a coordenadora do Sind-Ute, “o Estado promete mãos dadas, mas ao que parece será mesmo um presente de grego”.
Segundo a professora Gilvanita Dantas, em Porteirinha, cidade onde atua, por exemplo, são cerca 1.580 alunos na rede estadual, ainda tem os professores, ASBs (Ajudantes de Serviços Gerais), ATBs (Auxiliares de Secretarias) e os diretores de escolas designados (contratados) e todos esses profissionais vão, segundo ela, “ ganhar bem menos”.
“O receio é de que muitos professores designados vão ser demitidos, pois a cada quatro anos existe revezamento, pois os prefeitos mudam e gostam de colocar os seus aliados para trabalhar. Muitas vezes nem observando a competência desse aliado para o cargo, e isso faz com que a qualidade do ensino caia drasticamente, e com isso a nossa educação sofrerá muito”, analisa a educadora.
Gilvanita também se mostra muito preocupada com a saúde dos educadores e com os convênios dos laboratório e clínicas de saúde, pois ela acredita que os profissionais irão perder o direito ao Ipsemg (Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais) que é o plano de saúde da classe. Com isso, os laboratórios e clínicas particulares da nossa região também vão perder, pois o Ipsemg garante exames e consultas nos locais conveniados.
Sobre os profissionais efetivos o governo promete que será feita uma especialização no prazo de dois anos para haver uma realocação na rede estadual, enquanto isso essas pessoas trabalharão de forma “emprestada” para a rede municipal. Gilvanita afirma que essa medida vai causar um transtorno enorme pois, segundo ela, após esse “empréstimo” os profissionais que hoje são nível I serão realocados como nível II, e com isso terão que trabalhar em bibliotecas e secretarias, causando assim um enorme transtorno a todos.
Para concluir a professora encerra dizendo que “quando o professor não recebe uma condição de trabalho digna, os alunos não vão receber uma aula bem preparada, um ensino de qualidade, porque o professor não estará bem preparado e nem terá condições de trabalho adequado. Se hoje nós trabalhamos no Estado, que é bem preparado e nós ainda reclamamos, imagina se fosse o município, que não tem condições de oferecer essa estrutura para desenvolver esse trabalho”, encerra a coordenadora do Sind-Ute na região da Serra geral de Minas, Gilvanita Dantas.
Vários prefeitos, temendo e percebendo que os seus municípios não teriam estrutura para aderirem ao projeto já estariam o rejeitando.
O município de Serranópolis de Minas é o único dentre os atendidos pela Subsede de Janaúba que, até o momento já teria aceitado aderir ao “Projeto Mãos Dadas” do governo estadual.
O Sind-Ute de Janaúba atende atualmente seis municípios: Janaúba, Nova Porteirinha, Porteirinha, Riacho dos Machados, Serranópolis de Minas e Pai Pedro.