FOTO: Alisson J. Silva/Arquivo DC
JANAÚBA — Os produtores de frutas da Abanorte (Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas) estão descartando parte da produção devido às dificuldades para escoar e comercializar a safra em função das medidas impostas para o controle da pandemia do novo coronavírus.
A estimativa é de que a venda das frutas – principalmente, banana, manga, uva, tangerina, melancia, limão e mamão – esteja 30% menor. Com o fechamento de restaurantes, hotéis, escolas e a suspensão das feiras livres, vários canais de venda foram fechados e a falta de mercado tem comprometido a capacidade do produtor em continuar na atividade.
De acordo com o diretor administrativo da Abanorte, Rodolpho Rebello, em relação ao mercado interno, os produtores têm encontrado bastante dificuldade para comercializar.
A banana, que é a principal fruta produzida no Norte de Minas e a mais consumida no Brasil, por ter uma produção em grande escala tem diversos mercados e canais de comercialização e, mesmo assim, teve as vendas prejudicadas.
“Com a pandemia e as restrições impostas para a abertura dos empreendimentos, muitos dos canais foram bloqueados pelas legislações dos municípios e estados. Como muitos dos importantes canais foram bloqueados, houve um represamento das frutas nas fazendas e, obviamente, os produtores estão acumulando prejuízos”, afirma.
Ainda segundo Rebello, muitos produtores atendiam a demanda das feiras livres, que tiveram o funcionamento suspenso. Mesmo nos casos onde as feiras foram retomadas, a demanda está menor, uma vez que a população está receosa e consumindo menos.
Supermercados – Outro problema enfrentado, segundo o setor, são as negociações com os supermercados, que estariam pagando menos pelo produto e vendendo a preços elevados para o mercado final. Isso vem ocorrendo, com maior gravidade, nas negociações de banana.
Rebello explica que, desde o início do isolamento, os supermercados mantiveram o funcionamento pleno. Como houve um aumento da oferta pelos demais canais estarem com problemas, houve um desequilíbrio e uma super oferta de banana. Hoje o produtor recebe, em média, R$ 1,60 pelo quilo da banana e a fruta é negociada em torno de R$ 7 nos supermercados.
“Os supermercados, principalmente as grandes redes, estão insensíveis à situação do produtor. Além de pagar menos pelo produto, a queda de preço não está sendo repassada ao consumidor final”, destaca.
Conforme Rebello, outro impacto forte que vem prejudicando a comercialização das frutas em geral são as aulas suspensas. Muitos fruticultores que antes forneciam os produtos para a merenda escolar estão com dificuldades em comercializar a safra e acabam descartando os produtos.
O fechamento dos hotéis também tem sido prejudicial para o setor, principalmente, para os produtores de mamão, que têm o setor de hotelaria como um importante canal de vendas.
“É uma situação muito ruim e muitos produtores podem não ter condições de retomar a produção quando o isolamento acabar. Muitos estão descartando as frutas, acumulando prejuízos e sem condições de investir novamente”, diz.
Futuro desafiador – O receio do setor é o segundo semestre, quando a produção de frutas é maior. Com o agravamento da crise econômica e a redução da renda das famílias, a tendência é de queda da demanda, o que pode complicar ainda mais a situação do setor produtivo.
Além disso, a desvalorização do dólar frente ao real tem impulsionado os custos de produção, uma vez que os principais insumos, como os adubos e defensivos, são cotados na moeda norte-americana, o que compromete ainda mais a capacidade financeira dos fruticultores.
“É difícil estimar um custo para a produção de frutas. Mas, no caso da banana, por exemplo, um preço médio de R$ 2,20 por quilo, em uma produção eficiente, seria suficiente para cobrir os custos e gerar uma pequena margem para o produtor. Porém, os preços estão abaixo desse valor e, desta forma, a tendência é reduzir o número de produtores”.
Rebello ressalta que a fruticultura é uma atividade que gera muitos empregos, principalmente, no Norte de Minas e, por isso, deveria ser auxiliada pelos governos. Os fruticultores têm encontrado dificuldades de acessar as medidas já anunciadas pelo governo federal, como o crédito para financiamento da folha de pagamento, por exemplo. Outro problema é a postergação de dívidas nos bancos privados, medida que ainda não foi adotada.
Em relação às exportações, Rebello explica que os embarques respondem por uma pequena parcela da produção e a maior parte é destinada à Europa, para onde as vendas seguem dentro do esperado.
Outra parte é direcionada aos mercados argentino e uruguaio, que também estão com problemas sérios em relação à pandemia, o que reduziu a demanda.
“O volume que exportamos é pequeno, por isso, o impacto mais forte vem do mercado interno. Estamos preocupados com o segundo semestre, onde haverá mais oferta de frutas em um cenário de recessão e sem estimativa de retomada dos principais canais de comercialização. Diante de uma possibilidade de crise maior ainda, o governo federal precisa ter uma visão voltada para a fruticultura, que tem alta empregabilidade em função da baixa mecanização. Precisamos que as medidas de auxílio sejam significativas e cheguem ao fruticultor”, diz Rebello.
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